segunda-feira, 25 de outubro de 2010

da Outra

Paz, eu quero paz
Já me cansei de ser a última a saber de ti
Se todo mundo sabe quem te faz
chegar mais tarde
Eu já cansei de imaginar você com ela

Diz pra mim
se vale a pena, amor
A gente ria tanto desses nossos desencontros
Mas você passou do ponto
e agora eu já não sei mais...


Eu quero paz
Quero dançar com outro par
pra variar, amor
Não dá mais pra fingir que ainda não vi
As cicatrizes que ela fez

Se desta vez
ela é senhora deste amor
Pois vá embora, por favor
Que não demora pra essa dor
sangrar.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

do não-dito

O que sentimos vibra além dos papéis, das afinidades, da roupa de gente que usam. Toca o que a gente não vê. O que não passa. O que é (…) Com eles, o coração da gente descansa. Nós nos sentimos em casa, descalços, vestidos de nós mesmos. O afeto flui com facilidade rara. Somos aceitos, amados, bem-vindos.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

de uma viagem futura

Crônica da cidade de Santiago


Santiago do Chile mostra, como outras cidades latino-americanas, uma imagem resplandecente. Por menos de um dólar por dia, legiões de trabalhadores lustram a máscara da cidade.

Nos bairros altos, vive-se como em Miami, vive-se em Miami, miamiza-se a vida, roupa de plástico, comida de plástico, gente de plástico, enquanto os vídeos e os computadores domésticos se transformam em perfeitas contra-senhas da felicidade.

Mas os chilenos são cada vez menos, e cada vez são mais os subchilenos:
a economia os amaldiçoa, a polícia os persegue e a cultura os nega.

Alguns viram mendigos. Burlando as proibições, dão um jeito para aparecer debaixo do sinal fechado ou em qualquer portal. Há mendigos de todos os tamanhos e cores, inteiros e mutilados, sinceros ou fingidos: alguns, na desesperação total, caminhando na beira da loucura; e outros exibindo caras retorcidas e mãos trêmulas graças a muito ensaiar, profissionais admiráveis, verdadeiros artistas do bom pedir.

Em plena ditadura militar, o melhor dos mendigos chilenos era um que comovia dizendo num lamento:

— Sou civil.

do mal de acostumar-se

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.



- de pensar que o comum tornou-se raro. Pior: artificial. Na real, eu nem lembro direito quando isso começou, mas só sei que está assim. Acho que, no fundo, sei quando se intensificou, mas não do POR QUE, do PONTO DE PARTIDA. E pior ainda: não sei como parar com isso. E mais pior ainda: não sei se quero parar. Por que eu tô tranquila e nao quero (melhor, não ADMITO) que ninguém quebre ou ameace isso. Esse sentimento de plenitude é raro e só lembro de tê-lo vivido assim, com essa fome e veracidade uma vez. Mas alguma poucas vezes, eu me pergunto se estou tão plena assim. Porque ando mexida, ou melhor: minimamente pensativa. Querendo descobrir e também esquecer. Do que foi bom. Do que fazia isso tudo ter TANTO sentido. E do quanto eu me sentia bem conversando, partilhando, rindo, discutindo. Na real, acho que isso tudo me parece TÃO ANACRÔNICO - não consigo me imaginar fazendo isso com uns e outros hoje. Eu temi, por uns poucos instante, mas hoje não temo mais. Lamento, apenas. Que tudo esteja se perdendo assim.. tão de repente e até mais rápido que a construção. Mas destruir é tão mais fácil que construir, acho que isso é comum. É ruim, mas nada disso mais parece ter sentido pra mim. Não é natural e eu já não faço muita questão. Ainda não se tornou indiferença mas.. to sentindo que não falta muito. Comecemos, pois, a contagem regressiva.