quinta-feira, 29 de julho de 2010

e agora?

e agora que apareceu o que eu já quis?
agora que não tem uma palavrinha que ajuda a te definir - você e a sua situação amorosa?


tá estranho definir. já tentei hoje, mas tá realmente esquisito.
or tantos lados ouvi tanta coisa essa noite. esse papo de "desapegar-se" tá realmente funcionando. menina, por que eu não tive essa sacada antes?

mas o fato é: quando eu mais encanei, você me escapava pelas mãos (se é que, em algum dia, eu já te tive nelas). foi tão inesperado a visita julina que, no fim, me deu uma ressaca boa de você. uma sensação de "ainda imagino algo, mas não agora. não nesse exato momento". os últimos seis meses mexeram um bocadinho comigo, me tiraram algumas coisas, somaram outras. me trouxe novas pessoas, novos lugares, novas situações e, principalmente, novas reflexões.  E o engraçado é pensar que, mesmo com algumas mudanças pontuais importantes, ainda é tão completo conversar com você. É intenso. Vc diz que concorda comigo em quase tudo, mas o mais incrível  não é isso. É simplesmente me sentir acolhida pelo seu modo de ouvir, pelo seu jeito de olhar. Pelo seu sorriso de canto de boca quando eu reclamo ou constato umas coisas que, pra mim (e acho que pra você também) nao estão legais como estão. essa foi uma das principais constatações da última trombada que tivemos. Constatação já constatada por mim há tempos.

e o mais incrível também é ensar que, independente dos fins que nossa não-história teve, eu ainda penso isso de você. Independente de te visto há algumas semanas, de você ter me ajudado num dos momentos mais desafiadores da minha vida até então. De você não ter estado presente em pequenos detalhes - em quais senti a sua falta (muito, médio e pouco).

eu te admiro (ainda, acho que isso não é algo simples e tão efêmero que passa à medida que a janela troca a estação), admiro essa integridade, ese caráter que transparece, que emerge de voce de forma tão natural. minha mãe notou. mnha tia aprovou. minha vó adorou. olha que essa ultima tem uma pureza de coração que faz ela não se enganar tão facilmente quando se trata de assuntos assim.

enfim...
de dizer que eu tô leve, mais que pluma. hoje. há alguns dias. e não vejo meios disso acabar tão cedo :]

que você faça parte dessa plenitude que eu reconstrui após a sua partida.


que venha pra ficar :)



sexta-feira, 16 de julho de 2010

da felicidade e um pouco mais

“(…)


Vida, casa encantada,
onde eu moro e mora em mim,
te quero assim verdadeira
cheirando a manga e jasmim.

(…)”


Thiago de Mello – A Vida Verdadeira

 
animaçããão, incredulidade, little fears e uma vontade enorme de agir.
minha nossa, que férias.
 
ligação surpresa, casa minha e ela em mim. confissões na madrugada e no café da tarde. carinho na perna, abraços aconchegantes, acordar com telefonema e risos largos, rever fotos, lembrar momentos, partilhar memórias alheias, saber de novidades, relembrar cheiros.pessoas, cheiros, comidinhas, risos, muitas conversas. discussões e simples (aguardadas, supreendentes) constatações, confissões, comentários. um abraço. e um possével "até breve".
 
 
e do inesperado é do que eu gosto mais.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

literatura, chuva e sossego

a chuva riscava a janela do quarto. pintava de cinza as vidraças da casa. o frio entrava pelas narinas, fazendo-as gélidas e úmidas. o pé, gelado, tentava sobreviver embrulhado por meias não muito quentes. a cidade, mais nublada que o próprio céu, parecia murcha, quase morta. As pessoas, agasalhadas, passavam pela calçada, andando despreocupadas, meio apressadas, como quem diz: "assim que chegar em casa, um copo fervente de café".

e eis que no meio dessa gelidão brutal, há uma menina, envolta por seu cobertor cor-de-rosa. Estampado em flor, forrado por dentro e por fora, essa cobertor não tem apenas o poder de isolar a menina do frio . O cobertor isola não só o frio, mas também a menina do mundo noticiado nos jornais, televisionado pela caixa preta da sala e gélido, que entra pelas frestas da porta. Ele a isola ali, no seu quarto, no seu mundo. O mundo dela, de seus livros, do tempo que passa ali, sozinha com eles, porém tão bem acompanhada. "Eu tinha tanta coisa pora fazer, tanta gente pra ver mas, definitivamente, não desejaria estar em qualquer outro lugar que não esse, fazendo qualquer outra coisa que não isso".

esse sentimento, perseguidopor tanto tempo, ameniza as possíveis angústias da menina. com seus livros, ela conhece pessoas (um tal de Manuca, relembra Quintana e recontacta Drummond). os livros falam por si e pelos autores, mas o engraçado é notar que eles podem ter o significado que quisermos. tudo depende do leitor - não apenas do leitor em si, mas de seu estado de espírito, sua vontade, sua capacidade de abrir-se aos retalhos rabiscados no papel. Abrir-se às idéias ali contidas, às palavras carregadas de sentimentos, convicções, como pequenos recortes de mundo.

ali ela permanece. quente, cálida, calma. a chuva arranha os vidros. mas que importa? o vento sopra nos seus ouvidos, agita as folhas amareladas que caem, agitadas pela brisa outonil. mas ela está ali, rosada, ora pelo calor, ora pela sua concha cor de rosa. ali ela descobre o Recife de Bandeira, nao a Veneza brasileira, mas sim  recife antigo da casa de seu avô, recortadas pelas memórias infanto-juvenis do pernambucano. O que falar da saudade itabirana de Drummond, oitenta por cento ferro, porém, tão leve quanto pluma ao escrever versos como "teus ombros suportam o mundo / e ele  não pesa mais que a mão de uma criança". Quintana, vindo de Alegrete, descreve tão bem aquele ambiente vivido pela menina, que, amando os poemas em silêncio, revela-se uma amante e tanto. Ali, onde a alegria cabe apenas num sorriso.

passadas algumas horas, a menina levanta. renovada, sente como se tivesse sido ela lida pelas letras acompanhadas por seus olhos. moça, pronta a suportar algumas de suas dores e a encarar o mundo que, mesmo depois de tantas cores contidas naqueles retalhos bracos e pretos, continuava cinza.



a Poesia faz uma coisa que parece que nada tem a ver com os ingredientes mas que tem por isso mesmo um sabor total: eternamente ese gosto de nunca e de sempre.

domingo, 11 de julho de 2010

y mi soletud se siente acompañada

Vivia a te buscar
Porque pensando em ti
Corria contra o tempo
Eu descartava os dias
Em que não te vi

Como de um filme
A ação que não valeu
Rodava as horas pra trás
Roubava um pouquinho
E ajeitava o meu caminho
Pra encostar no teu

Subia na montanha
Não como anda um corpo
Mas um sentimento
Eu surpreendia o sol

Antes do sol raiar
Saltava as noites
Sem me refazer
E pela porta de trás

Da casa vazia
Eu ingressaria
E te veria
Confusa por me ver
Chegando assim
Mil dias antes de te conhecer


[Valsa Brasileira, Chico]