domingo, 28 de novembro de 2010

de maravilhosos descuidos




A gente vive tentando pôr ordem em tudo. Cheia de não me toques, eu só quero desse jeito, nessa hora, na companhia de tal pessoa. Achando que sabe o que é melhor pra si (e para outros, muitas vezes). Por vezes, sou levada a crer que não é bem assim. Às vezes, deslizamos. Nos descuidamos. Pagamos a língua. Quebramos promessas. Desviamos do caminho.

bom..ainda bem  :)

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

de prazeres molhados

"Toco a tua boca, com um dedo toco o contorno do tua boca, vou desenhando essa boca como se estivesse saindo da minha mão, como se pela primeira vez a tua boca se entreabrisse e basta-me fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar. Faço nascer, de cada vez, a boca que desejo, a boca que a minha não escolheu e te desenha no rosto, uma boca eleita entre todas, com soberana liberdade eleita por mim para desenhá-la com minha mão em teu rosto e que por um acaso, que não procuro compreender, coincide exatamente com a tua boca que sorri debaixo daquela que a minha mão te desenha".

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

de nostalgias

de reflexões na madrugada, música revivida e muita... muita saudade.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

das Mulheres

E Sto. Tomás, depois de Aristóteles, decreta que a mulhjer é um ser incompleto, um ser "ocasional". É o que simboliza a história do gênese em que Eva aparece como extraída, segundo Bossuet, como um "osso supranumerário" de Adão. A humanidade é masculina e o homem define a mulher não em si mas relativamente a ele; ela não é considerada um ser autônomo. [...] Ela não senão o que o homem quer que ela seja. [...] A mulher determina-se  e diferencia-se em relação ao homem  e não este em relação a ela; a fêmea é o inessencial perante o essencial. O homem é Sujeito, Absoluto; ela é o Outro.

A categoria do Outro é tão original quanto a própria consciência. [...] Levi-Strauss pôde concluir: "A passagem do estado natural ao estado cultural define-se pel aptidão, por parte do homem, em pensar as relações biológicas sob a forma de sistema de oposições: a dualidade, a alternância, a oposição e a simetria, que se apresentam sob formas definidas ou vagas, constituem menos fenômenos  que cumpre explicar que os dados fundamentais da realidade social". [...]

Por que as mulheres não contestam a alteridade do macho? Nenhum sujeito se coloca  imediata e espontaneamente  como inessencial;  não é o Outro definindo-se como Outro define o Um; ele é posto como Outro  pelo Um definindo-se como Um. [...]


De onde vem essa submissão na mulher?


Ecistem outros casos que, durante um tempo, uma categoria conseguiu dominar totalmente a outra. É muitas vezes a desigualdade numérica que confere esse privilégio: a maioria impõe sua lei à minoria ou a persegue.Ma as mulheres não são, como os negros nos EUA ou os judeus, uma minoria: há tantos homens quanto mulheres na terra. Não raro também os dois grupos foram inicialmente independentes [...] e foi um acontecimento histórico que subordinou o mais fraco ao mais forte: a diáspora judaica, a introdução dos escravos na América, as conquistas coloniais são fatos precisos. Nesse casos, para os oprimidos, houve um passo à frente: têm em comum um passado, uma tradição, por vezes uma religião, uma cultura. [...]

Nem sempre houve proletário, sempre houve mulheres. Elas o são em virtude da sua estrutura fisiológica: por mais longe que se remonte na história, elas smpre estiveram subordinadas ao homem. Sua dependência não é consequência de um evento ou de uma evolução, ela não aconteceu. [..]

Em verdade, a natureza, como realidade histórica, não é um dado imutável. Se a mulher se enxerga como inessencial é porque não opera, ela própria, esse retorno. Os proletários dizem "nós". Os negros também. Apresentando-se como sujeitos, eles transformam em "outros" os burgueses, os brancos.  As mulheres - salvo em cerrtos congressos - não dizem "nós". os negros dizem "as mulheres" e elas usam essas palavraspara se designarem a si mesmas: mas não se põe autenticamente como Sujeito.

os proletários fizeram a revolução na Rússia, os negros no Haiti,  os indo-chneses bateram-se na Indo-China. A ação das mulheres nunca passou de uma agitação simbólica: só ganharam o que os homens concordaram em lhes conceder; elas nada tomara: elas receberam. [...]

Vivem dispersas entre homens, ligados pelo habitat, pelo trabalho, pelos interesses ecnonômicos, pela condição social a certos homens - pai ou marido - mais estreitamente do que as outras mulheres. Burguesas são solidárias dos burgueses e não das mulheres proletárias; brancas dos homens brancos e não das mulheres pretas.

O proletariado poderia propor-se o trucidamente da classe dirigente; um jude, um negro fanático poderiam sonhar com possuir o segredo da bomba atômica e constituir uma humanidade inteiramente judaica ou inteiramente negra: mas mesmo em sonho a mulher não pode sonhar em exterminar os homens. O laço que a une a seus opressores não é comparável a nenhum outro. A divisão dos sexos é, com efeito,  um dado biológico e não um momento da história humana. [...]

O casal é uma unidade fundamental cujas metades se acham presas indissoluvelmente uma à outra: nenhum corte é possível numa sociedade na sociedade por sexos. Isso é o que caracteriza fundamentalmente a mulher: ela é o Outro numa totalidade cujos dois termos são necessários um ao outro.


 (trecho da introdução de "O Segundo Sexo", Simone de Beauvoir)