domingo, 28 de junho de 2009

a arte indesejada


14 de abril de 1928,


De fato a miséria que aflige tantos compatriotas inquieta-me o espírito. Parece difícil encontrar em nosso país um caminho que permita a resolução do problema, ou uma simples amenização dele, que seja. Nota-se hoje uma podridão que corrói as instituições políticas do país, estando o povo sempre abaixo de todas as esferas do poder, sem chances reais de integrá-las mas sendo direta e constantemente afetado por elas.

As artes devem retratar o que emociona, o que comove. Porém isso não do belo o ÚNICO tema de quadros, livros, músicas. O feio, o grotesco, o que causa conforto e desperta ojeriza à maioria dos homens também deve ser discutido, pintado, escrito, ouvido. Por isso, sendo homem contemporâneo de minha época, sinto dever cumprir a função a que poucos se prestam e a que outros raros valorizam: a representação do indesejável, do ignorado, da pobreza que afeta a tantos e que preocupa tão poucos.

Nas últimas semanas, venho arquetitando um projeto a ser concretizado futurament, quando eu melhor tiver desenvolvido minhas técnicas e minha maturidade como pintos. Nesse projeto, essa miséria não será detalh,e sim a temática que regerá minhas obras. Quadros que exponham de maneira FRIA a aromaticidade contida na miséria que é tão banal em cenários como o nordeste brasileiro. É na caatinga que desenvolverei cenas típicas vividas por retirantes - homens que não possue moradia, alimento ou qualquer outra coisa além da própria além da própria vida. Penso em um quadro que exponha o clímax dessa tensão. O momento em que o retirante se depara com algo desconhecido, uma sombra única em meio à vermelhidão da seca: a morte.

Além do corpo ósseio, dos rostos cavados pelo privação e da fisionomia marcada pelo sofrimento, penso em realçar a dor causada pela morte aytravés do retrato de uma criança: será ela - pequena, frágil, morta - a maior vítima dessa organização que destrói vidas e extingue, dia após dia, a humanindade necessária para uma socieadde menos injusta.

Que a arte seja o meio por que eu mostre essa realidade de muitos para aqueles que a desconhecem. O que essa mesma arte permita-se tocar aqueles outros que cruelmente tentam ignorar essa vergonha.



Cândido.

sábado, 20 de junho de 2009

a uma querida

"Mas muitas vezes a minha chamada inteligência é tão pouca como se eu tivesse a mente cega. As pessoas que falam de minha inteligência estão na verdade confundindo inteligencia com o que chamarei agora de SENSIBILIDADE INTELIGENTE. Esta sim, várias vezes, tive ou tenho. [...] Suponho que esse tipo de sensibilidade, uma que não só se comove como por assim dizer pensa sem ser com a cabeça, suponho que seja um dom. E, como um dom, pode ser abafado pela falta de uso ou aperfeiçoar-se com o uso. Tenho uma amiga, por exemplo, que além de inteligente tem o dom da sensibilidade inteligente e, por profissão, usa constantemente esse dom. O resultado então é que ela tem o que eu chamo de coração inteligente em tão alto grau que a guia e guia os outros como um verdadeiro radar."

tirei de um livro da Clarice que dei pra minha mãe (sim, aquele livro quea minha amiga roubou da escola). lembrei de voce.e é exatamente assim que eu me sinto em relação a você. mesclar sensibilidade, personalidade e inteligencia. Está aí uma tarefa bem difícil. Grata por ter me guiado até mim mesma, aos meus gostos e minhas paixões (por livros, pela língua, pela escrita). Beijos querida, e não demore a transmitir sua chegada ao Brasil na próxima vez!

beijos de uma eterna aluna sua,
Alê.


[bem que Portugal poderia ser mais pertinho, aqui do lado, como da Marginal até a minha casa.]

quarta-feira, 17 de junho de 2009

do cheiro no ônibus

Resíduo

(...) Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.

Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.

(...) E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.

Carlos Drummond de Andrade

domingo, 14 de junho de 2009

mão paralisada, memória rebobinada


You Are My Sunshine
(Johnny Cash)


the other night, dear, as i lay sleeping
I dreamed i held you in my arms
When i awoke, dear, i was mistaken
So i hung my head and cried

You are my sunshine, my only sunshine
You make me happy when skies are grey
You'll never know, dear, how much i love you
Please don't take my sunshine away

I'll always love you and make you happy
If you will only say the same
But if you leave me to love another
You'll regret it all someday

You are my sunshine, my only sunshine
You make me happy when skies are grey
You'll never know, dear, how much i love you
Please don't take my sunshine away

You told me once, dear, you really loved me
And no one else could come between.
But now you've left me and love another,
You have shattered all my dreams.

You are my sunshine, my only sunshine
You make me happy when skies are grey
You'll never know, dear, how much i love you
Please don't take my sunshine away

entre os muros da escola valeu meu fim de semana.
minha redação ficou um cocô de criança com diarréia.
eu tinha MUITA coisa pra escrever.

mas essa música é tão LINDA que tudo o que eu tinha em mente pareceu evaporar. paralisou a minha mão. rebobinou minha memória.

terça-feira, 9 de junho de 2009

leituras numa tarde de sol

Por oposição àqueles que se definem pela semelhança ou pela diferença com pessoa a atitudes específicas, quem se define pelo amor se aproxima da liberdade da indiferença ante as diferenças.

Eis que a força (vis) da memória reside no fato de poder remeter efetivamente o passado para o presente, desta forma ele NUNCA está perdido.


Em certo sentido, nossa existência depende do amor. Se não houver alguém que nos pareça semelhante do que há de AUSENTE em nós, as possibilidades desse ausente dificilmente se realizam, mantendo-se no âmbito do sonho ou do devaneio.

[eis uma boa explicação do por que os opostos se atraem]

domingo, 7 de junho de 2009

guardamos na memória...

...o que queremos esquecer.


E se é pra ser honesto, nada mais justo do que eu te falar isso: você tem um lugar muito seu dentro de mim.



mas tem um quê de culpa, de dúvida, de insegurança e , por que não, de medo.
ela ali, defronte ao computador, 1:46 de plena segunda-feira.
ela ali: com as mãos frias, os pés gelados, o coração apertado e pedinte. de açúcar, de afeto e, principalmente, de respostas. o seu medo de não ter opinião - não aquela formada pra tudo, mas a outra, estabelecida após reflexões e ponderações - era uma de suas maiores aflições.

a mulher sempre fora criada para ser reprimida, enjaulada, com tal pudor de dar inveja a celibatários. ela se perguntava se não se encaixava exatamente nesse perfil. por que não fazer ali, NAQUELE MOMENTO, o que desejava fazer? ação rápida, instantânea, impulsiva. aliviante. talvez esse quê - de saudade, de raiva, de culpa - se evaporasse, ou, quem sabe, se tornasse ainda maior.

a raiva tem unhas vermelhas. a saudade veste um pullôver cinza, típico de um dia gélido e cortante de outono. agora.. e a culpa? a insegurança? o medo? verde, amarelo, laranja? o arco-íris que cravejava essa erupção de sentimentos em seu peito parecia estar longe do fim.

e ela ficava ali: se remoendo, lembrando, cheirando, ouvindo, repetindo - gestos, palavras e, minha nossa, até gestos. falava sozinha - no chuveiro, no banheiro, no quarto.

"tome logo uma atitude", pensava. "mas.. e se algo vier depois?".
essa sua mania de contra argumentar tudo ainda iria acabar com ela.
e esse vício de ter uma ínfima esperança, de esperar o que pode vir, ainda vai enterrar qualquer uma de suas possibilidades.

sem esse bla bla bla pós-moderno: aja, sinta, dance, viva. tudo isso é importante sim, mas, combinemos, a vida não é só feita disso. Nos sentimos culpados por não estarmos 101% MEGA-ULTRA-RADIANTE-FELIZES o tempo todo. Pise no freio. RESPEITE-SE.

Aja de acordo com a sua vontade, com as suas erupções internas, com os seus valores. Dê-se mais tempo. permita-se. viver. morrer. errar. E COMPREENDER QUE TUDO ISSO FAZ SIM PARTE DO QUE CHAMAMOS DE VIDA. aprender com os erros é comuns. Aprender com as quedas reeptidas é mais árduo e, por que não, mais bonito.

não é possível estar 100% vivo - não o tempo todo.
tudo em excesso mata.

e, perdida em alguns pensamentos, vejo que o equilíbrio é o grande desafio que temos hoje. TEMOS QUE APRENDER A DIZER N-Ã-O.

Nossos avós enfrentaram guerras. nosso pais enterraram nossos heróis.. e nós?

a sensação de vazio que, não muito raro, toma conta de boa parte das pessoas hoje, é epidêmico.

pós pós-modernidade

Por isso para Gandhi havia mais do que sete pecados capitais, e que ele apontava como erros comuns aos homens e à sociedade: a política sem princípios, o comércio sem moralidade, a riqueza sem trabalho, a religião sem sacrifício, a ciência sem humanidade, o conhecimento sem carácter.


Feuerbach no “prefácio” à segunda edição da Essência do Cristianismo, permite-nos agora conduzir esta comunicação: «o nosso tempo sem dúvida, prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser… o que é sagrado para ele, não passa de ilusão, pois a verdade está no profano. Ou seja, à medida que decresce a verdade a ilusão aumenta, e o sagrado cresce a seus olhos de forma que o cúmulo da ilusão é também o cúmulo do sagrado». A nossa sociedade como que elevou à categoria de religião, a melhoria das condições de vida materiais – viver melhor é uma prática institucionalizada, ritualizada, uma paixão colectiva, que é no dizer da ultima obra de Lipovetsky, A felicidade paradoxal, uma nova fase do capitalismo: a sociedade do hiperconsumo. Assim, nasce um outro tipo de Homo consumericus, voraz e flexível, «liberto da antiga cultura de classe, imprevisível nos seus gostos e nas suas compras e sedento de experiências emocionais e de (mais) bem-estar, de marcas, de autenticidade, de imediatidade, de comunicação». O consumo funciona já não como subterfúgio, mas como um império sem tempos mortos cujos contornos estão ainda por definir. No entanto, esta é uma felicidade paradoxal pois nunca o indivíduo contemporâneo atingiu um tal grau de abandono com tamanha felicidade.

http://www.freewebs.com/pauloalexandreecastro/ensaioimaginaoentredeus.htm

sexta-feira, 5 de junho de 2009

realidade?




The Son of Man, 1926
É provavelmente dos quadros mais famosos de Magritte. Ele define-o desta forma: "Tudo o que vemos esconde outra coisa, e nós queremos sempre ver o que está escondido pelo que vemos.

"My painting is visible images which conceal nothing; they evoke mystery and, indeed, when one sees one of my pictures, one asks oneself this simple question 'What does that mean'? It does not mean anything, because mystery means nothing either, it is unknowable."



Eu escutava, compreendia, aprovava, achava tais palavras tranquilizadoras e não estava errado, já que se destinavam a tranquilizar: nada é irremediável e, no fundo, nada se mexe, as vãs agitações da superfície não devem ocultar-nos a calma mortuária que é o nosso quinhão.As nossas visitas despediam-se, eu ficava só, evadia-me deste cemitério banal, ia juntar-me à vida, à loucura nos livros. Bastava-me abrir um deles para redescobrir esse pensamento inumano, inquieto, cujas pompas e trevas ultrapassavam o meu entendimento, que saltava de uma ideia a outra tão depressa que eu largava a presa cem vezes por página, deixando-a escapulir, aturdido, perdido. [Sartre]