segunda-feira, 2 de agosto de 2010

do temor dos inesperados

cacete, que medo que me dá. aliás, um mix de medo, de ansiedade, de vontade de responder as MILHÕES de perguntas que me preenchem agora, da cabeça aos pés. é INCRÍVEL como planejamos falas, frases, cenas e até olhares e sorrisos com um alguém e, no fim, tudo nao sai exatamente como pensávamos / desejávamos. Alguns itens saem ainda melhores. outros nem tanto.

mas o fato é: nunca tive tão pouco (ou nenhum) controle sobre o caos de sensações que me retalham como agora. Num dia uma coisa, noutro outra, no seguinte ainda resta uma história recortada e mal contada pelo caminho. eu e minha mania de não pôr um fim, de dar um desfecho evidente para as coisas. quando eu comecei a me ligar mais em cinema, lembro de odiar aqueles filmes que não tinham final - final MESMO, daqueles de te fazer chorar pelo casal ter terminado junto ou por ter se separado definitivamente. ou qualquer outro desfecho que respondesse às perguntas que passaram pela minha cabeça ao longo de toda a trama.

e olha que irônico: no fim, minha trajetória é uma repetição de histórias não terminadas ou mal continuadas. de memórias que se cruzam e se mesclam, de frustrações que se somam, de surpresas boas que se multiplicam cada dia mais. das minhas inseguranças infinitas que me impedem de dar um passo rumo ao um THE END, enfim! e é nessa ânsia de acertar que acabo deixando tudo um pouco mais difícil e mais interminado. uma frase jogada ou que escapa, um olhar não intencionado que acaba extravasando, um sorriso que se esparrama em momentos de maior seriedade. um abraço não impedido, um noite não dormida, um "não" não dito, uma flor recebida, uma conversa que se deixa levar e que, no fim, acaba revelando muito mais do que pensávamos. ou muito mais do que tínhamos sentiso.

os silêncios que preenchem as dúvidas, os espaços, as conversas e que acabam falando muito mais do que pessoas. eu tenho medo dos silêncios. e do quanto eles podem falar por nós. é nesses silêncios que os movimentos se reproduzem, entrecortados por uma contraluz que desenha perfis no ar e ilumina olhos e bocas.


de uma dança, leve, inocente e envolvente ao mesmo tempo. de memórias, angústias e expectativas partilhadas, confissões trocadas, memórias confessadas.  livros emprestados, músicas mandadas, afagos.de uma identificação sobrenatural e uma aproximação frenética.

de um matar saudade que estava meio esquecida, meio guardada, meio trancada a sete chaves. de um janela inesperada, de uma ligação inesperada, de um "o convite ainda tá de pé?" mais inesperado ainda. de parte da família conhecida, de pães de queijo e bolo de mandioca. de um "até mais" no carro, de frases antes cobiçadas agora soltas, deliberadamente, da maneira mais natural e não dramatizada possível.

de abraço forte, que expreme lágrimas, tímidas, pequenas, mas que precisavam se libertar de dentro de nós. de noites partilhadas, mensagens não mandadas mas escritas meio incessantemente e naturalmente, escritas em pensamento, em sentimento, em vontade. de todas as discusssões, todas as convicções, todos as divergências, as poucas concordâncias. O novo ver, new ideas, new musicas, new style, new colours, new places, new destinies. todas as partilhas, todas as preocupações, todos os agrados, os empréstimos, os interesses, os risos, as frases de efeito mal jogadas com terceiras intenções. das discussões maduras na praça, no planejar de destinos alheios. algumas últimas decepções, algumas farpas bem cortantes, algumas brincadeiras não ponderadas.da dúvida que paira. sobre o que não se concretizou, mas de tudo o que já conseguiu arrancar, mudar, mexer, tirar, acrescentar. de todas as percepções alteradas, da ausência prolongada que consome, que me preenche e me esvazia, que me consome minutos que se transformam em dia que se convertem em mês. da dúvida constante, da pergunta mal feita e, por enquanto, longe de se respondida.

de abraço tímido, leve, meio desajeitado, que quer entregar-se e afagar o outro, mas com um receio, um pudor, um "quero mas não devo". das músicas tocadas, dedicadas, pensadas. do refri comprado, do salgado oferecido, do sorriso que se continha em sair e deixar-se mostrar. das mil frases, atos, supresinhas planejadas porém guardadas, num armário, num canto do quarto, da memória, do peito. de fotos tiradas, de cartas recebidas, lidas, relidas. tecos de email de esparramar riso ("digamos que eu adoro inverno"). do poder imutável de mexer com meus interiores e deme fazer AGORA (com 6 meses de faculdade, uma vivência e o conhecimento de pessoas tão maravilhosas) a pergunta que nunca se calou e que, pelo que vejo, continuará morando e latejando em mim: "POR QUE?". da sensação de eu ser a errada, a insensível, a que sempre faz tudo errado. ou, quase tudo.


às vezes gostaria de ter uma folha em branco e começar tudo de novo. mas, poucos instantes depois me asseguro: não. reescrever nos impede de viver alguns momentos em toda a sua exatidão e intensidade. digamos que, no máximo, eu gostaria de.. um bloco de rascunhos =]



"O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento conseguido com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar..

[...]

Esta dor tem de ser aguentada e bem sofrida com paciencia e fortaleza. Ir a correr para debaixo das saias de quem for é uma reacção natural, mas não serve de nada e faz pouco de nós próprios. A mágoa é um estado natural. Tem o seu tempo e o seu estilo. Tem até uma estranha beleza. Nós somos feitos para aguentar com ela.


Podemos arranjar as maneiras que quisermos de odiar quem amámos, de nos vingarmos delas, de nos pormos a milhas, de lhe pormos os cornos, de lhes compormos redondilhas, mas tudo isso não tem mal. Nem faz bem nenhum. Tudo isso conta como lembrança. Tudo isso conta como uma saudade contrariada, enraivecida, embaraçada por ter sido apanhada na via pública, como um bicho preto e feio, um parasita do coração, uma peste inexterminável, barata esperneante: uma saudade de pernas para o ar.


O que é preciso é iguala a intensidade do amor a quem se ama e a quem se perdeu. Para esquecer, é preciso dar algo em troca. Os grandes esquecimentos saem sempre caros. É preciso dar tempo, dar dor, dar com a cabeça nas paredes, dar sangue, dar um pedacinho de carne (eu quero do lombo, mesmo por cima da tua anca de menina, se faz favor)."

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