Internet não substitui o repórter
Roger Cohen (colunista, analista político)
Logo após a 1ª Guerra Mundial, o sociólogo alemão Max Weber proferiu uma conferência em Munique sobre jornalismo. "Nem todos percebem que escrever um texto jornalístico realmente bom exige tanto do nosso intelecto quanto um trabalho acadêmico", disse ele aos estudantes. "Isso se aplica especialmente quando estamos reunindo material para um artigo que tem de ser escrito no momento e tem de ter repercussão imediata, mesmo sendo produzido em condições totalmente diferentes de quando realizamos uma pesquisa acadêmica. No geral, ignoramos que a verdadeira responsabilidade de um jornalista seja muito maior do que a de um acadêmico."
Sim, jornalismo é uma questão de gravidade. A tendência hoje é a de destruir a reputação em vez de elogiar a mídia.
Em meio aos gritos de doutrinação partidária envolvendo a posse do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, e os toques de sinos anunciando a morte da imprensa, uma verdade fundamental se perde: a de que ser jornalista é ser testemunha dos fatos. O resto é decoração.
Ser testemunha dos fatos significa estar presente. Nenhum buscador na internet consegue transmitir o odor de um crime, o tremor no ar, os olhos que ardem, os ecos de um grito.Nenhum buscador de notícias vai lhe falar sobre a cidade devastada suspirando ao anoitecer, nem dos gritos desafiadores ouvidos noite adentro. Nenhum milagre da tecnologia pode reproduzir essa sensação de boca seca que o medo causa. Nenhum algoritmo vai capturar a dignidade sem alarde, não vai provocar a carga de adrenalina que se funde com a coragem nem expor as marcas ainda frescas de uma chicotada.
[...]
Nós, jornalistas, devemos seguir adiante. É o que costumamos fazer, como voyeurs insaciáveis. Mas uma vez em mais ou menos uma década isso não acontece. É como se estivéssemos apaixonados. Mas o objeto do nosso amor se vinga, vira o jogo e não nos deixa ficar.
Fui um dos últimos jornalistas ocidentais a deixar Teerã. Ignorei a revogação do meu visto de jornalista e permaneci ali enquanto foi possível. Fiquei profundamente revoltado com a submissão ao grupo que cerca Ahmadinejad, que se apossou do poder quebrando o equilíbrio das instituições da revolução e cujo objetivo ficou claro: afastar qualquer testemunha ocular do crime.
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Jamais Ahmadinejad falará novamente em justiça sem ser arruinado pelo efeito Neda - a imagem dos olhos sem expressão, a vida se extinguindo e o sangue escorrendo pelo rosto da jovem manifestante Neda Agha Soltan, baleada no peito em Teerã, no dia 20. O Irã oprime o povo com sua tragédia. Foi insuportável partir. Ainda é. As imagens multiplicam-se pela internet, mas a mídia tradicional, disciplinada para destilar esses fatos, se omitiu.O mundo ainda observa.
Nós, americanos, quando celebramos nosso Dia da Independência, no dia 4, deveríamos ter nos colocado do lado do Irã, recordando a primeira revolução democrática na Ásia, ocorrida em 1905, justamente no Irã.
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De um lugar distante ainda ouço esses sons e sinto como se essa distância fosse uma traição não só a todas essas corajosas vozes que podem ser ouvidas noite adentro, mas também à "verdadeira responsabilidade" de um jornalista.
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090712/not_imp401485,0.php
Meu Deus.
eu precisava tanto ler algo assim num dia como hoje.
Que as palavras de Weber nos acompanhem.
E QUE AS PESSOAS FINALMENTE SE CONVENÇAM DE QUE:
1) Michael Jackson morreu, e que não há mais NADA que se possa fazer a respeito.
2) o mundo NÃO SE RESUME A MICHAEL JACKSON! (SIM, VOCÊ CONSEGUIRÁ SOBREVIVER SEM ELE VIVO!).
3) EXISTEM PROBLEMAS MUITO MAIS GRAVES DO QUE A MORTE DE MICHAEL JACKSON. Sem desrespeito à morte dele - ele era sim o rei do pop e continuará sendo peça singular na história da músicas - mas.. PORRA. Pessoas morrem diariamente, com histórias tão ou MUITO mais trágicas que a de Jackson - de fome na África, pelas guerras do Oriente Médio, nos tiroteios da favela Paraisópolis e nas ruas cariocas - acontecem DIARIAMENTE, e nada muito gritante é feito além de míseras linhas no jornais, ou poucos segundos nos telejornais diários (e olha lá). África ainda é clichê, mas parece que a maioria não está muito preocupada em tirar a África, o Oriente Médio e a violência das metrópoles brasileiras do cerne de questões como a violência, a miséria e a pobreza.
4) Michael Jackson está tão em pauta não só por seu peso na história da música, mas porque suahistória e suas tragédias pessoais continuam dando lucro e sua morte foi mais um episódio do SHOW BUSINESS que constituiu toda a sua existencia.
então, se você é fã ou gostava de Jackson, DESLIGUE A PORRA DA TV e não veja programas que sustentam as especulações sobre as causas da morte dele, ou comentem as VELHAS polêmicas que permearam a existencia do caçula do Jackson Five. Assim, VOCE NÃO ESTARÁ CONTRIBUINDO PARA fazer também da morte dele mais um capítulo lucrativo para os tablóides e para a indústria musical - que fizeram de Jackson o rei do pop, o pior dos pedófilos, um cruel abusador de criancinhas e agora um herói, bondoso, tímido, cheio de esquisitices - que continuará sendo visto por toda essa indústria apenas como uma cifra milionária $$$$$$, e não como uma PESSOA, vítima do sucesso e pertencente a uma família desestruturada (a cujo pai não consegui ainda designar um adjetivo propício que resumisse a sua imundície).
Voltemos à realidade. Discutemos Irã , Honduras, Oriente Médio, Obama na África, violência no RJ e em SP - responsável de fazer vítimas DIA APÓS DIA - a lama do Senado, a destruição da Amazônia e todos tantos assuntos não impressos nos jornais.
E deixemos Jackson FINALMENTE descansar em paz, pela primeira vez que seja.
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