14 de abril de 1928,
De fato a miséria que aflige tantos compatriotas inquieta-me o espírito. Parece difícil encontrar em nosso país um caminho que permita a resolução do problema, ou uma simples amenização dele, que seja. Nota-se hoje uma podridão que corrói as instituições políticas do país, estando o povo sempre abaixo de todas as esferas do poder, sem chances reais de integrá-las mas sendo direta e constantemente afetado por elas.
As artes devem retratar o que emociona, o que comove. Porém isso não do belo o ÚNICO tema de quadros, livros, músicas. O feio, o grotesco, o que causa conforto e desperta ojeriza à maioria dos homens também deve ser discutido, pintado, escrito, ouvido. Por isso, sendo homem contemporâneo de minha época, sinto dever cumprir a função a que poucos se prestam e a que outros raros valorizam: a representação do indesejável, do ignorado, da pobreza que afeta a tantos e que preocupa tão poucos.
Nas últimas semanas, venho arquetitando um projeto a ser concretizado futurament, quando eu melhor tiver desenvolvido minhas técnicas e minha maturidade como pintos. Nesse projeto, essa miséria não será detalh,e sim a temática que regerá minhas obras. Quadros que exponham de maneira FRIA a aromaticidade contida na miséria que é tão banal em cenários como o nordeste brasileiro. É na caatinga que desenvolverei cenas típicas vividas por retirantes - homens que não possue moradia, alimento ou qualquer outra coisa além da própria além da própria vida. Penso em um quadro que exponha o clímax dessa tensão. O momento em que o retirante se depara com algo desconhecido, uma sombra única em meio à vermelhidão da seca: a morte.
Além do corpo ósseio, dos rostos cavados pelo privação e da fisionomia marcada pelo sofrimento, penso em realçar a dor causada pela morte aytravés do retrato de uma criança: será ela - pequena, frágil, morta - a maior vítima dessa organização que destrói vidas e extingue, dia após dia, a humanindade necessária para uma socieadde menos injusta.
Que a arte seja o meio por que eu mostre essa realidade de muitos para aqueles que a desconhecem. O que essa mesma arte permita-se tocar aqueles outros que cruelmente tentam ignorar essa vergonha.
Cândido.