sexta-feira, 1 de maio de 2009

há uma década e meia sem herói






"Não sei dirigir de outra maneira que não seja arriscada. Quando tiver de ultrapassar vou ultrapassar mesmo. Cada piloto tem o seu limite. O meu é um pouco acima do dos outros."


"No que diz respeito ao empenho, ao compromisso, ao esforço, à dedicação, não existe meio termo. Ou você faz uma coisa bem feita ou não faz."


"Uma maneira de preservar sua própria imagem é não deixar que o mundo invada sua casa. Foi um modo que encontrei de preservar ao máximo meus valores."

[Ayton Senna]




Há exatos 15 anos morria. Nao só o MAIOR piloto brasileiro de todos os tempos, mas o ÚLTIMO HERÓI nacional que nós tivemos. Não injustiçando Gustavo Kuerten - que é outro cara DO CARALHO também - mas convenhamos que o nome "Senna" tem algo especial, um brilho que é ÚNICO e inconfundível.

Até hoje não se sabe o por quê da morte de um dos cara mais impressionantes da história da Fórmula-1. 1,9 segundos foram suficientes para fazer da corrida de Ímola, em 1994, um das mais tristes até então.

Hoje vi em jornais relances, flashes brevissimos (mais que o esperado) de cenas, dos títulos e dos feitos de Senna. Pude ver nos apresentadores a face do "inacreditável", do lembrar amargurado de uma figura indiscutivelmente incrível. Acho que até mais importante que ressaltar os feitos e qualidades de Senna, deve-se entender o que ele representou para o Brasil e para todos nós a quem ele não cansava de clamar e agradecer: os brasileiros.

Fim de 1980, início da década de 1990. Fim da ditadura militar. Neoliberalismo. Abertura à avalanche de multinacionais ávidas por lucros intermináveis. A crise econômica que se instalou na vastidão verde-amarela derrubou empresas, empregos, famílias. Aquele sentimento de "nada vai dar certo, o Brasil não vai pra frente" era iminente e, por que não, inevitável.

Essa sensação de impotência e derrotismo era a moldura de uma retrato mal acabado do que seria "o país do futuro". Nesse mesmo contexto surgia uma figura simples, desconhecida até então que, como ele mesmo dizia, faria os jornalistas esgotarem os adjetivos do dicónário. E não é que o danado estava certo?


Ayrton Senna da Silva, nascido em 21 de Março de 1960, era filho de um abastado empresário paulista, filho de Niede, irmão de Viviane e Leonardo. Aos quatro anos ganhou, de seu pai, seu primeiro kart. Aos 10, o primeiro kart profisisonal. A condição para poderpilotar era bons resultados na escola. Esse kart era o objeto de barganha de notas boas pelospais de Senna.

Aos 20 anos, contra a vontade de seus pais, trancou a faculdade de administração que fazia em São Paulo, e se dedicou ao automobilismo. (mais um que prova que GRANDES SONHOS exigem GRANDES desafios e uma determinação INCRÍVEL). Na sua primeira corrida ficou em quinto lugar, na segunda em terceiro e a primeira vitória no Van Diemen RF8I surgiu, em Brands Hatch, numa prova a contar para o campeonato Townsend Tboresen.Senna dominou completamente a competitiva Fórmula Ford inglesa, conquistando, para o construtor de Norfolk, os campeonatos, RAC e Townsend Thoresen.Em 1982, as vitórias sucederam-se, sagrando-se, com a Rushen Green Racing, campeão britânico e Europeu de Fórmula Ford 2000. Desanimado com a falta de um apoio financeiro mais efetivo, Senna voltou para o Brasil, mas, o apoio do Banerj o fez voltar, de imediato, ao Reino Unido. (alô, confiança!).

Ganha seu primeiro título em 1988. No ano seguinte, as vitórias de Senna em Spa-Francorchamps e Jerez, e de Prost em Monza, levam a um confronto decisivo em Suzuka. Incrivelmente, os dois McLaren-Honda se chocam, quando, a sete voltas do fim, Prost fecha Senna.Este consegue voltar à pista e vai para o box substituir o seu aerofólio dianteiro. Regressa então à pista ultrapassando agressivamente o novo líder Alessandro Nannini, mas a vitória lhe é retirada pelos Comissários Desportivos, não só por ter sido empurrado pelos fiscais de pista, conseguindo assim pôr o carro em marcha, mas também por ter cortado a chicane após o incidente.

Nesta altura, Senna acusou abertamente Prost de deliberadamente o pôr fora da corrida e a inimizade entre os dois atingiu o seu auge. Sem ânimo para correr, chega a Adelaide para disputar a última prova da temporada. No entanto, após 13 voltas, sofre um violento acidente.Senna deixou a Austrália tão desapontado e desiludido com uma temporada que foi uma constante guerra de nervos, que ele pensou em abandonar a carreira.Após o incidente de Suzuka, a hostilidade entre os dois era total. 'Eu estava na torre por cima da pista, quando descobri que tinha sido desclassificado. Prost veio ter comigo e pôs a mão no meu ombro dizendo que gostaria que o campeonato não tivesse acabado daquela forma. Senti que o queria comer vivo. Gritei para que desaparecesse, que saísse da minha frente. Após seis meses sem nos falarmos, ele vem-me com esta hipocrisia'.

Em 1990, diferentemente do ano anterior, Senna c sagra-se bicampeão mundial. O tricampeonato veio em 1991. Senna demorou muito a decidir o que fazer em 1993 e chegou ao final do ano sem ser contratado por nenhuma equipe. Ele sentiu que os carros da McLaren não seriam competitivos, especialmente depois que a Honda resolveu se retirar da F1 no final de 1992, e não poderia ir para a Williams enquanto Prost estivesse por lá, pois o contrato dele proibia a equipe de ter Senna como seu parceiro. Senna foi persuadido a voltar para a McLaren, mas o brasileiro concordou somente em assinar para a primeira corrida da temporada, na África do Sul, onde ele iria verificar se os carros da McLaren eram competitivos o bastante para lhe proporcionar uma boa temporada. Senna já havia tentado entrar para a Williams em 1993, mas foi impedido por Prost, que vetou seu nome. Senna se ofereceu para pilotar por nada, pois seu desejo era fazer parte da vencedora equipe Williams-Renault, mas foi impedido por uma cláusula no contrato do francês que impedia o brasileiro de entrar para a equipe. Porém, essa cláusula não se estenderia até 1994, o que fez Prost se retirar das corridas um ano antes de vencer seu contrato, preferindo isso a ter seu principal rival como companheiro de equipe.

Em 1994, Senna finalmente assinou com a equipe Williams-Renault. Senna agora estava na equipe que havia ganho os dois campeonatos anteriores com um veículo muito superior aos demais. A pré-temporada de testes mostrou que o carro era rápido mas difícil de dirigir.

Na terceira corrida da temporada, Senna mais uma vez conquistou a pole, mas o fim de semana não seria tão fácil. Ele estava particularmente preocupado com dois eventos. Um deles, na sexta-feira, durante a sessão de qualificação da tarde, um novato protegido de Senna e também brasileiro, Rubens Barrichello, envolveu-se num grave acidente em que perdeu o controle de sua Jordan , passou por cima de uma zebra e voou da pista, chocando-se violentamente contra uma barreira de pneus. Felizmente, Barrichello saiu desse acidente com pequenas escoriações e o nariz quebrado, ferimento suficiente para impedí-lo de correr no domingo. Senna visitou seu amigo no hospital - ele pulou o muro depois que foi impedido de visitá-lo pelos médicos - e ficou convencido de que as normas de segurança deveriam ser revisadas.

Mudanças feitas no autódromo Enzo e Dino Ferrari depois dos acidentes de 1994
O segundo ocorreu no sábado, durante os treinos livres quando o austríaco Roland Ratzemberger bateu violentamente na curva Villeneuve num acidente que começou a se formar na fatídica curva Tamburello, quando a asa dianteira de seu carro se soltou fazendo-o perder o controle do veículo. Levado ao Hospital Maggiore de Bolonha, ele faleceu minutos depois.

Na sétima volta a corrida foi reiniciada, e Senna rapidamente fez a terceira melhor volta da corrida, seguido por Schumacher. Senna iniciara o que seria a sua última volta; ele entrou na curva Tamburello e perdeu o controle do carro, seguindo reto e chocando-se violentamente contra o muro de concreto. A telemetria mostrou que Senna, ao notar o descontrole do carro, ainda conseguiu, nessa fração de segundo, reduzir a velocidade de cerca de 300 km/h para cerca de 200 km/h . Os oficiais de pista chegaram à cena do acidente e, ao perceber a gravidade, só puderam esperar a equipe médica. Por um momento a cabeça de Senna se mexeu levemente, e o mundo, que assistia pela TV, imaginou que ele estivesse bem, mas esse movimento havia sido causado por um profundo dano cerebral. Senna foi removido de seu carro pelo Professor Sidney Watkins, neurocirurgião de renome mundial e chefe da equipe médica da corrida, e recebeu os primeiros socorros ainda na pista, ao lado de seu carro destruído, antes de ser levado de helicóptero para o Hospital Maggiore de Bolonha onde, poucas horas depois, foi declarado morto.

Mais tarde o Professor Watkins declarou:
“Ele estava sereno. Eu levantei suas pálpebras e estava claro, por suas pupilas, que ele teve um ferimento maciço no cérebro. Nós o tiramos do cockpit e o pusemos no chão. Embora eu seja totalmente agnóstico, eu senti sua alma partir nesse momento."

Foi encontrado no carro de Ayrton Senna uma bandeira austríaca que, em caso de uma possível vitória, Ayrton Senna a empunharia em homenagem ao austríaco Roland Ratzenberger, morto um dia antes.

Na verdade, não planejava pôr tecos da história dele nesse texto. Mesmo estando com uma VONTADE LOUCA de escrever, queria algo DIRETO, que passasse o que eu senti hoje quando vi as matérias sobre Senna. Mas, ao ler sites alheios e ver detalhes como esses, vi que apenas falar o que todos já sabem, mas que raramente aplicam no seu dia-a-dia, não condiria com a história desse homem.

Mesmo que esse papo da bandeira da Áustria não tenha fontes verdadeiras, ele só reafirma a nobreza e o CARÁTER de Senna. Estáapi uma boa palavra que nos remete a ele: CARÁTER. Valores, enraizados, demonstrados em cada entrevista. O lado determinado, agressivo e ambicioso nas pistas, para quem apenas a vitória importava, contratava com o homem calmo e acolhedor visto fora dos carros. Senna, mais que títulos e história, deixou uma das maiores bandeiras que levava consigo: a solidariedade. O Instituto Ayrton Senna é uma pequena amostra desse Senna humanitário, preocupado com os valores a serem passados para as crianças. "Se a gente quiser modificar alguma coisa, é pelas crianças que devemos começar, por meio da educação", dizia ele.

Aqui, serei mais uma (futura) jornalista que tentará em vão qualificar Senna, e tentar explicar POR QUÊ CONTINUA SENDO tão importante para o Brasil. A permanencia de ideais, a perseguição dde seus objetivos de vida, a visão da educação como ferramenta para a chegada ao país de fato do futuro, além da paixão INCONDICIONAL que tinha pelo Brasil são algumas das justificativas para o título desse post. Senna foi, é e será o que quase nenhum de nós que habitamos essa terra jamais seremos: BRASILEIROS. Por maior que sejam as adversidades.

E eu me incluo nisso. Alguns fatores me brocham de tal forma a respeito do nosso país, que chego a rir das manchetes de jornais quando elas se mostram empolgadas em relação ao pré-sal, a uma melhora, ainda que pequena, na educação, no sistema de saúde público e na organiação político-administrativa do nosso país (sendo esse último quesito motivo de piadas e deboches por toda a vastidão verde-amarela).

Os heróis nascem de uma coletividade. Do anseio, da necessidade de um grupo que vê no herói o grande idealizador e efetuador desse ideal. Desde que o Brasil É Brasil, a falta da idéia de Nação é um dos problemas mais crônicos que temos - mais antigo que a corrupção, acredite. Uma figura que UNA o país, não só a cada 4 anos com as Copas do Mundo, ou a outros 4 anos com o pipoque de uma medalha olímpica com dizeres mal ensaiados do hino nacional, que CLAME valores como A EDUCAÇÃO, O CARÁTER, A SUPERAÇÃO E A BUSCA INSCONSTANTE PELO SEU MELHOR - cada vez mais raros não só no Btasil, mas em todo o mundo- e ELIMINE aquela sensação de "de novo, aqui sempre é assim" (ainda que momentaneamente) é algo tão MARCANTE que nem um LIVRO INTEIRO, ou mil páginas desse ou qualquer outro site, poderão evidenciar de modo objetivo a GRANDIOSIDADE e a IMPORTÂNCIA de Senna.

Veja nos dias de hoje. Diferentemente de Senna, outros grandes nomes do esporte nacional - Ronaldinho, Kaká, Falcão, Giba, Bernardinho, Daiane dos Santos, Mauren Maggi - por mais vitoriosos que sejam (independente de medalhas) não levantam bandeiras além da verde amarela quando es~tão lá, no alto do pódio. A diferenciação de Senna vem justamente DAÍ: vindo de família abastada, Senna não deixou que isso fizesse dele MAIS UM GANHADOR de partidas, jogos, torneios. Senna construiu um nome, e mais que isso: usou-se dele para discutir de questões TÃO URGENTES e propositalmente IGNORADAS, desde que o o mundo é mundo e o Brasil é Brasil. A educação, o seu poder de transformação na sociedade, sua capacidade de trazer não só o progresso econômico-científico mas também a justiça social e promover a formação de verdadeiros CIDADÃOS, capazes de lutar pelo país que desejam ter, ilustra a magnitudade de Senna. Valores como ÉTICA, SUPERAÇÃO, AMOR PELO QUE FAZ E HUMILDADE - ciente de suas limitações, por mais que títulos parecessem dizer o contrário. Isso É Ayton Senna.

Só resta-nos agradecer. Aplaudir. Deixar umedecer nossos olhos toda vez que o "tan tan tan.." tocar, forte e imponente, mais uma vez. E NÃO DEIXAR QUE SENNA MORRA DE FATO.

"O fato de ser brasileiro só me enche de orgulho." (Ayrton Senna)


http://www.bbc.co.uk/portuguese/especial/140_sennatenyears/

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