quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Hamlet - Parte II

Imagino a pergunta minimamente óbvia que deve ter ficado: por que enumerar os posts sobre Hamlet (I, II, III...) se não houve continuação do primeiro? Pois aqui está.

Falei sim do elenco TODO no primeiro post, afinal, já que a peça não era um monólogo,todos tiveram absoluta participação no fato de "Hamlet" ter sido o sucesso que foi. Faltou-me falar do protagonista- não o único responsável pelo sucesso - mas, digamos, a cereja que faltava no bolo.

Já narrados os primeiros minutos de alucinação mediante Wagner Moura em cena (acho que se sente ago assim quando se vê alguém famoso...não paixão nem tietagem mas aquilo de: “Nossa, agora tão perto”. Sempre sinto que o que se vê na TV é um tanto distante do que ocorre aqui do outro lado da minha calçada). Passados esses minutos, notei que Wagner estava um tanto comportado em cena – dramatizava, mas nada “MINHA NOSSA,ELE É O HAMLET ENCARNADO”. Ouvi comentários, opiniões de amigas minhas que tinham ido à peça. Elas disseram que Moura estava IMPECÁVEL, e se doou tanto ao personagem que, em algumas falar, chegava até mesmo a babar. Fui exatamente com esse imagem na cabeça. Passados uns 30 minutos de peça, esse Hamlet passou a ser visto (mediante a situação em que se encontrava na trama). Wagner babou, cuspiu, gritou, pulou, chorou, e,o principal: sentiu. Ainda me encontro um pouco sobre o efeito Benjamin Button, e lembro de uma das melhores frases do filmes, quando Benjamin está sentado aprendendo a tocar piano com uma das senhoras da pensão. Ela diz: “Não importa o quão certo você faça algo. O importante é sentir o que você está fazendo” (algo muuito semelhante, não estou absolutamente certa quanto aos termos e sua ordem, mas era isso, em essência). Foi exatamente isso que senti quando vi Wagner em cena. O recurso encontrado pelo grupo (câmera ali, ao alcance da platéia, cujas imagens eram projetadas no telão ao fundo) só realçaram os olhares, a angústia, o medo, a vingança vivida por Hamlet. Uma das melhores cenas utilizadoras desse recurso se deu quando Hamlet jura ir ao topo do penhasco para ver se ali há o fantasma de seu pai (visto pelos amigos do príncipe). O olhar de Wagner, uma ponta de brilho, uma mescla de medo e ansiedade, um quê de coragem temida. Wagner estava, simplesmente. Seguro, temido, temente. Doando-se, recebendo. Experiente, novato. Vivendo, atuando. Sensacional, de fato

Comecei a peça com os olhos molhados, terminei-a com eles babando (Alô Guimarães!). A primeira cena da peça se dá com Hamlet sendo vestido por uma armadura (adorei a simplicidade da peça). Uma jorraaada de pensamentos, sensações, sentimentos, expectativas, medos, angústias, esperanças passaram por mim nesse instante. Não vi ali Hamlet, e sim Wagner. Imaginei todas as dificuldades que ele deve ter enfrentado para poder chegar até ali – não ao teatro FAAP, não à Hamlet simplesmente, mas ali: ao seu sonho. Pode ser papo clichê, mas vestibular me deixa um tanto careta assim. Vi uma entrevista dele no Roda Viva na qual ele disse ter posto uma quantia do seu próprio dinheiro para que a peça virasse realidade (junto a capitais de alguns outros atores do elenco também). Tudo isso não deve ter sido nada perto do que ele já deve ter passado: vindo da Bahia (terra que nos dá tantos mitos culturais, mas tão castigada pela sua localização no Nordeste brasileiro – região que não recebe não investimentos, por mais que exista Bolsa Família). Já tinha lido que ele começou a carreira como jornalista, mas, pessoalmente, ele me disse que sempre exerceu as duas profissões (ator e jornalista). Duas profissões um tanto complicadas num país como o Brasil – sim, onde a cultura não recebe estímulos, e a mídia (como em quase todos os países do mundo) faz o que bem entende para criar a realidade que lhes é interessante.

Por mais que eu escreva – linhas, páginas, folhas – não poderei dizer o que passou por mim naqueles instantes primeiros do espetáculos. Mas o fato é: foi sim, diferente, e o ingresso já valeria pelo que ali se deu. Ao fim da peça, ao ver a platéia ovacionando, aplaudindo de pé, ouvi uma voz que e dizia: siga o que te manda aqui dentro. Faça o que sonha, lute pelo que acredita. Por mais pessimista que eu me demonstre em alguns momentos, isso de “acredite, lute, busque” compõe o que existe de mais Alessandra em mim.

Ao ver aquela platéia ali, aplaudindo, e o rosto de cada um dos atores,imagino o que deve ter passado dentro de cada um deles. Minha miopia não me permite nada além, mas aposto que um brilhinho que ali havia era união do brilho de cada um deles. No fim, era como se aqueles aplausos me dissessem: . Faça o que tem que fazer, sem medo. Busque o que você acredita, lute pelo que sonha, sinta cada palavra, transpareça o que há de mais seu. Sem medo.

Que, assim como Hamlet, como Wagner, como o elenco, eu me vista com a armadura – da coragem, da força, do receio, da confiança – e parta para o mundo.

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