quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Menta marroquina e frutas cítricas


De taaanto encher a paciência de minha progenitora, finalmente consegui fazê-la comprar pos ingressos para a peça Hamlet. Sim, estarei lá, sábado, vendo Wagnão impecável (como sempre) no palco do Teatro da FAAP. Li algumas coisinhas sobre um das obras-primas Shakesperianas, e, quando vi, já estava também lendo sobre Narcisismo, Santo Agostinho, João Calvino, Monólogo, Psicanálise (!).

De fato, não descobri coisa MELHOR nas férias do que fuçar. Sites, blogs, temas, fotos. Você começa pensando em algo, e quando vê, já está se deparando com algo completamente diferente. Foi assim ontem também: descobri (finalmente!) o CD do Bob Dylan que tinha roubado momentaneamente da minha vizinha (alô apto.81!). Li algumas letras (uma muito, muito foda, que era praticamente uma mini-aula de história). Depois de Dylan, me deu um insight e eu comecei a ler letras de músicas (divinamente) interpretadas por Elis *.* Toda vez que penso em Elis tenho ABSOLUTA certeza de que nasci na época errada. Às vezes (=muitas vezes) me pergunto o que não teria dado pra ir num show dela. Vi alguns clipes dela à la anos 80 (alô nostalgia!). Enfim, coisa muito da boa :]

Voltando a Hamlet, cheguei da FAAP hoje (pô Wagnão, não tinha nenhum outro teatro mais baratinho que o do senhor Álvares Penteado?). Aquele lugar é definitivamente lindo. Lembro de ter ido lá pela ultima vez com a escola, para ver uma exposição de esculturas que vieram da Calábria, Itália (exposição essa que mudou completamente as minhas concepções mal formuladas sobre arte). Como daquela vez, assim que parei no saguão da faculdade, olhei pra cima. O vitral que tem lá é, realmente, do além. Transmite leveza, uma calma, como se fosse algo transcendental, sabe?

Depois de comprar os ingressos, eu, mamis e minha promoter fomos a um "café", que fica em frente à FAAP. "O Melhor Bolo de Chocolate do Mundo" - sim, esse era o nome. Minha mãe, informadíssima como sempre, falou que o bolo dali era famosíssimo. Li em algum papel lá dentro que esse bolo foi inventado em Lisboa, na feira de Santa Clara. O sucesso foi tanto que o cara ampliou as lojas, até chegar ali no Pacaembu. Conclusão: a globalização também tem suas qualidades, não? Principalmente para nós, gordinhas safadas!

Não sei o que tem naquele bolo, mas é, de fato, diferente de tudono que eu já comi. Confesso que o bolo de chocolate da Márcia (alô infância!) é algo DIVINO, e que não deixa nada (nada!) a desejar para esse bolo. O tal bolo é beem vistoso. Parece um suspiro de chocolate com recheio - a massa é mais durinha que aquela convencional, parecendo um biscoito cuja massa é aerada, que derrete na boca. Sim, ficar imaginando uma delícia dessas e passar vontade engorda até mais do que experimentá-la (e não ouse duvidar de que não tenho base científica para comprovar a afirmação feita anteriormente). Para completaro papinho no café, pedi um chá de menta marroquina e frutas cítricas.

- Como é o nome? - disse.
- Menta marroquina e frutas citricas - respondeu a atendente, com um sorriso lindo, já morrendo de vontade de rir.
- Nossa mãe,olha isso. Acho que eu levaria uns cinco meses para decorar o nome disso. Chique não? Traz um pra mim por favor?

E a atendente sai sorrindo. Não consegui identificar com se com cara de "De onde veio essa menina sem classe?" ou "Quem trouxe ela pra cá?". Mas, de qualquer maneira, gostei do sorriso dela.

Tomei o chá (derramei metade, óbvio - não nasci para tomar chá). Mas não é que o negócio de nome-pseudo-chique-emergente era bom? E olha que eu não tomo nada além de um simples camomila ;] Na conversa no café me senti um tanto adulta demais (algo ruim, não bom). Estava no meio de desabafos de mulheres que vivem uma fase um tanto desiludida. A chuvinha fina que caia lá fora, parecendo riscos de lápis aquarela recém molhado, acentuaram o ar dramático da conversa. O mais diferente foi ouvir: "Não, porque a Edna me disse que eu sou um espírito adiantado e que tem alguém me esperando do outro lado. Companheiro meu, de jornada".

Fiquei toda arrepiada ao pensar em justificativas assim quando não se sente mais vontade de viver. Religião, misticismo, explicações que fogem da abrangência científica sempre me deixam, no mínimo, curiosa ou até impressionada. Nessa hora,uma menina toda maltrapilha passava na rua, tomando a chuvinha de aquarela. E nos ali, quientinhas, comendo "O Melhor Bolo de Chocolate do Mundo" e um chá com um nome exoticamente fino. Se culpa doesse, eu deveria ter ido pro hospital, por cinco segundos que fossem.

[E agora me dá licença pois tem Wagnão passando na Globo - algo minimamente decente no lugar das três letrinhas emburrecedoras do horário que de nobre não tem nada. Até sábado, querido Hamlet.]

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